Mudanças Climáticas: Agora é a Hora de Transformar Essa Fúria em Ação

A alarmante mensagem do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para a coletiva de imprensa do lançamento do relatório do IPCC.

Precisamos urgentemente espalhar esta mensagem, pois, como ele mesmo disse, cada fração de um grau importa!


Caros representantes da mídia,

Já vi muitos relatórios científicos na minha vida, mas nunca nenhum como esse.

O mais recente relatório do IPCC é um atlas do sofrimento humano, uma condenação a uma liderança climática falida.

Dado após dado, esse relatório revela como as pessoas e o planeta estão sendo maltratadas pelas mudanças climáticas.

Quase metade da humanidade está vivendo numa zona de perigo – nesse exato instante.

Muitos ecossistemas já se encontram num caminho sem retorno – nesse exato instante.

Fora de controle, a poluição por carbono está levando os mais vulneráveis a uma marcha ruma à destruição – nesse exato instante.

Os fatos são inegáveis.

A ausência de liderança é criminosa.

Os maiores poluidores do mundo são os culpados pelo incêndio de nossa única residência.

É essencial manter o limite de aumento de temperatura global em 1,5°C.

A ciência nos mostra que é necessário cortar emissões em 45% até 2030, e alcançar emissão zero até 2050.

Porém, seguindo o ritmo atual, estima-se um aumento de 14% nas emissões globais até o fim dessa década.

Isso significa uma catástrofe.

Vai acabar com qualquer chance de manter a meta de 1,5°C.

O relatório de hoje destaca duas verdades absolutas.

Primeiro, carvão e combustíveis fósseis estão sufocando a humanidade.

Todas as nações do G20 concordaram em cortar subsídios ao carvão em todo o mundo. Agora, devem urgentemente fazer o mesmo em casa, desativando suas usinas de carvão.

Aqueles do setor privado que ainda financiam carvão devem ser responsabilizados.

Os gigantes de petróleo e gás – e seus apoiadores – também devem ser avisados.

Você não pode se proclamar “verde” se seus planos e projetos sabotam a meta de emissão zero em 2050, ignorando os cortes significativos que devem ocorrer nessa década.

As pessoas conseguem enxergar através dessa cortina de fumaça.

Os países da OCDE (*) devem substituir o carvão até 2030; os demais, até 2040.

* Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

A atual matriz energética não funciona.

Como eventos recentes já deixaram claro, nossa contínua dependência de combustíveis fósseis deixam a economia global e a disponibilidade de energia suscetíveis a choques e crises geopolíticas.

Em vez de desacelerar a descarbonização da economia, agora é o momento de acelerar a transição energética para um futuro de energias renováveis.

Combustíveis fósseis são um beco sem saída – para nosso planeta, para a humanidade e, sim, para as economias.

Uma transição imediata e bem gerenciada para renováveis é o único caminho para garantir a segurança energética, o acesso universal e os empregos verdes de que nosso mundo precisa.

Eu convoco os países desenvolvidos, bancos multilaterais de desenvolvimento, financiadores privados e outros para formar coalizões e ajudar grandes economias emergentes a acabar com o uso de carvão.

Esses mecanismos de apoio indicados seriam uma solução mais do que adequada para as atuais necessidades de desenvolvimento sustentável.

A segunda maior revelação do relatório é uma notícia um pouco melhor: investimentos em adaptação funcionam.

Adaptação salva vidas.

Conforme os impactos do clima piorarem – e vão piorar – aumentar investimentos será necessário para a sobrevivência.

Adaptação e mitigação devem ser perseguidas com tanta força como urgência.

É por isso que venho fazendo pressão para conseguir 50% de todo o investimento climático em adaptação.

O compromisso de Glasgow em financiar adaptação é insuficiente para as nações que estão na linha de frente da crise climática vencerem esses desafios.

Também insisto em que se removam os obstáculos que pequenos países insulares e os menos desenvolvidos enfrentam para conseguir financiamento, tão desesperadamente necessário para suas vidas e meios de subsistência.

Precisamos de novos sistemas de elegibilidade para lidar com essa nova realidade.

Demorar significa a morte.

Me inspiro naqueles que estão na linha de frente da batalha climática lutando com soluções.

Todos os bancos de desenvolvimento – multilaterais, regionais, nacionais – sabem o que precisa ser feito: trabalhar com os governos para criar linhas de projetos financiáveis e ajudá-los a encontrar esse financiamento, público e privado.

E todos os países devem honrar a promessa de Glasgow de fortalecer anualmente os planos nacionais para o clima até estarem alinhados com a meta de 1,5°C.

O G20 precisa tomar a dianteira, ou a humanidade vai pagar um preço ainda mais trágico.

Sei que as pessoas estão ansiosas, com raiva.

Eu também estou.

Agora é a hora de transformar essa fúria em ação.

Cada fração de um grau importa.

Cada voz pode fazer a diferença.

E cada segundo conta.

Obrigado.

Assista o vídeo na integra:


Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/174234-relatorio-do-ipcc-mensagem-de-video-do-secretario-geral-da-onu

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